Nesta última tarde em que respiro
a justa luz que nasce das palavras
e no largo horizonte se dissipa quantos segredos únicos, precisos
e que altiva promessa fica ardendo
na ausência interminável do teu rosto.
Pois não posso dizer sequer que te amei nunca
senão em cada gesto e pensamento
de dentro destes vagos vãos poemas;
e já todos me ensinam em linguagem simples
que somos mera fábula, obscuramente
inventada na rima de um qualquer
cantor sem voz batendo no teclado;
desta falta de tempo, sorte, e jeito,
se faz noutro futuro o nosso encontro.
E como, em noite parda, esse escritor demente
descobre no papel as formas do seu fim,
sem desistir de ti, ainda que as águas cubram
de escamas a mansa pele,
ao meu delgado corpo de ar sonoro
ato em nova aliança o antigo canto.
António Franco Alexandre (1944)
Uma fábula - in poemário A/Alvim, 2004
sábado, 21 de março de 2009
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